Olha pra mim.

Vivo à sombra do irreconhecível.
Vivo numa atmosfera onde pedem o que não dão.
O que custava conceder esses dias vazios?
O que custava beneficiar o que está sendo alimentado?
O senhor pede aquilo que não é capaz de oferecer.
Pede minha presença, mas não está comigo.
De que vale roupas, alimento, saúde?
De que vale tudo isso?
Onde está a essência?
Onde está o que eu realmente preciso?
Deixe-me ir.
Eu preciso daquela voz.
Nunca a ouvi, mas estou a caminho.
Eu sei que estou.

Obrigam-me a chorar baixinho, sem muitos alardes.
Minha cara amarrada não transparece meu choro berrante.
Peço-lhe Deus, me ouça.
Olha pra mim.
A vontade de repetir esta frase é indelével.
Eu repito.
Continuarei a repetir.
Olha pra mim.

Meu reflexo condena um fracassado.
Entretanto, a guerra perdura.
Eu sei que fracassado não sou,
Pois as circunstâncias mostram-me.
Meu choro é um pedido de socorro,
As lágrimas densas que jorram dos meus olhos castanhos imploram por ti.
Neste exato momento era pra eu estar contigo Deus,
Mas o que me restou foi a imaginação da tua face.
Como ela é bela.
Perdoa-me por ser assim.
Mas, estou aqui.

Lucas Munhoz Moura.