Não
compete a ninguém palpitar no exterior a si; aquilo que um ser abriga já traz a
diversidade e complexidade suficientes para mantê-lo ocupado, preocupado,
inquieto, reflexivo e vivo. Nos últimos meses, por exemplo, tudo está tão
diferente. Contudo, o contorno da linha que separa a excelência da desgraça nisso
é tão sem cor. Se ao redor de todos houvesse neutralidade, tudo seria tão mais
claro; só que existem vozes, olhares, manifestações que contemplam e priorizam a
obscuridade, a insignificância. Diante disso, o ser fica mais tristonho, mais
aborrecido; com um sabor amargo em si e com um monólogo enfadonho na mente.
As
mutações que o ser incorpora são necessárias, não sei se saudáveis; concedem
vigor à existência, dão vida ao homem; uma possibilidade de caminhos. Elas,
contudo, podem denunciar inconstância, um esforço que não compensou ou uma
máscara que não caiu bem, talvez. Podem desmoronar um castelo outrora sólido de
ideologias e construir outro igualmente sólido e pressentir a existência de
outros no porvir...
A
incerteza das coisas traz tão forte amargor e uma esperança que não poderia ser
tão corrosiva e impiedosa, revelando igualmente a majestade e a ruína do homem.
Ele pode reinar sobre si mesmo, sendo o seu próprio guia e inventor, mas sempre
está resignado ao tempo, às circunstâncias, às oscilações da montanha pela qual
diariamente caminha.
Adaptar-se
é o que lhe resta. Transformar a si mesmo. Desapegar-se da vileza da sua
arrogância e ignorância. Resta-lhe prosseguir e evoluir, vivendo conscientemente,
prezando, antes de tudo, pelo seu bem-estar.
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